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Sweet Stuff

livros, música e desabafos vários.

Qui | 03.08.17

Dos livros que salvam vidas

Em 2015 li o The Silver Linings Playbook de Matthew Quick, Na altura, cheguei a fazer uma review aqui no blog e no goodreads sobre como o livro me tocou de uma forma profunda. Hoje, após ler o post da Graziela, pus-me a pensar novamente na importância que a arte tem e na relevância da literatura enquanto forma criadora de empatia, mas também, de salva-vidas.

 

Em entrevistas de emprego digo sempre que o meu maior defeito é o perfeccionismo. Normalmente os empregadores riem-se, julgam que quero ser delicada e utilizar uma resposta "chapa cinco" (desculpem eu sempre ouvi a expressão assim, nem 3 nem 4, mas 5) em vez de referir problemas "a sério". Mas acontece que a obsessão com o perfeccionismo é um problema. Não só na vida laboral (em que, em pouco tempo, nos tornamos em workaholics fora de controlo) como na vida pessoal também. 

 

Este post parece não ser sobre nada, mas já lá chego. Falei de livros e de perfeccionismo. O perfeccionismo é um problema grave - ou, pelo menos na minha vida tem sido - porque é uma ilusão. Toda a gente comete erros. Qual o discente que não entregou a tese sem uma única gralha, ainda que tenha passado horas, dias e semanas a rever o seu trabalho? Qual o condutor que nunca passou num semáforo vermelho por não conseguir travar a tempo? Frases feitas como "ninguém é perfeito" nunca surtiram qualquer efeito em mim e, até hoje, esta ideia de ter de ser perfeita é algo contra o qual luto. Durante este processo, os livros ajudaram-me muito. 

 

Há dois anos, quando tentei explicar aos meus familiares e amigos o que se estava a passar comigo, ninguém me conseguiu entender. Aliás, tudo o que eu dizia parecia soar de forma errada, como se a minha voz estivesse distorcida, tal como num testemunho televisivo. Nunca tinha dado um nome àquilo que estava a sentir (ansiedade, depressão, fosse o que fosse), porque nunca me tinha acontecido nada de grave na vida. Não passava fome, situação financeira estável, ninguém próximo tinha falecido ou estava adoentado, então por que é que eu não estava bem?

 

Ler o diário de Pat e a sua jornada para encontrar o seu final feliz fez-me perceber que as coisas na minha vida (e na minha cabeça) não estavam bem, mas iam melhorar. Sim não sou perfeita, nem nunca vou ser, vou magoar os outros inconscientemente e não preciso de me sentir culpada por isso. Foi uma epifania. Não possuía nenhum exemplo na vida real de alguém que estivesse a passar pelo mesmo, até porque, como já se sabe, falar sobre saúde mental ainda é um tabu. Mesmo assim, ter um "amigo fictício ", com o qual me consegui identificar, confortou-me e ajudou-me a seguir em frente. 

 

Também já aqui falei do Franny and Zooey do Salinger e de como a frase "I am sick of not having the courage to be an absolute nobody" resume tudo aquilo que senti nessa fase, em que colocava pressão em mim mesma para ser perfeita em todas as facetas da minha vida. A filha perfeita, a amiga perfeita, a profissional perfeita. Quis realmente ser uma "zé-ninguém", não ter responsabilidades, não ter de responder a nada, não ter um estatuto ou gerar expectativas. Quis desaparecer.

 

A Franny, o Pat e tantos outros foram meus amigos. Os livros são amigos. Os livros são valiosos, não só porque nos ajudam a criar empatia por alguém em circunstâncias completamente distintas das nossas, como também funcionam como um reflexo daquilo que somos, ou vamos sendo ao longo da vida. Encontramos em papel (ou no ecrã de um e-reader) uma descrição detalhada dos nossos sentimentos, angústias, alegrias e paixões. E também a motivação necessária para ouvir os sábios conselhos que as páginas gentilmente nos sussurram: Vai correr tudo bem. 

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