queda.
De repente sentiu uma vontade enorme de partir.
De viajar. De deixar tudo para trás, de ser egoísta uma vez na vida e virar as costas ao Mundo por um bocadinho.
Não a todo o Mundo, mas ao seuMundo, ao Mundo de todos os dias, à realidade que estava cansada de ver e viver.
Já não queria estar presente.
Olhou pela varanda do quarto e debruçou-se um pouco, inclinou a cabeça para baixo e começou a baloiçar os pés.
Era como uma espécie de dança, para a frente, para trás, mas sem deixar cair.
Aquela cidade não era simpática, nem aquelas pessoas, nem aquela vida, a única réstia de cor que havia naquelas ruas era o amarelo ofuscante dos táxis. Mais nada.
Em pontas de pés fechou os olhos, conseguia sentir a brisa de Outono acariciar-lhe a face, os pés estavam agora imóveis mas ainda afastados do chão.
Já não queria estar presente numa cidade que nunca deu nada a ninguém, não queria estar presente naquele corpo que nunca foi nada a ninguém.
Fechou os olhos por um momento e um momento só.
Para a frente, para trás mas sem deixar cair.
Ainda com a chávena na mão, sorveu um golo, seguido de outro e de um seguinte e de um último. Bebeu o Universo numa chávena de chá.
E de repente sentiu uma vontade enorme de cair
para nunca mais se levantar.