De Uma Amiga
Nunca mais falámos. Nunca mais conversámos. Nunca mais dialogámos sobre as coisas, sobre as pessoas, sobre o que está mal ou bem. Nunca mais tivemos aquelas inspirações espontâneas que nos faziam correr pelas escadas abaixo a 312 à hora na procura exaustiva de uma mera esferográfica e um bocado de papel. Nunca mais trocámos livros e não cumprimos o prazo de entrega, mas tu nem te importavas. Nunca mais rabiscámos poemas de António Gedeão. Nunca mais citámos versos do Pessoa, evocando a grande pessoa que ele era. Nunca mais rimos um verdadeiro riso, uma gargalhada descabida que até assustava os vizinhos. Nunca mais nos metemos na floresta durante a noite e nos sentámos geladas só para ouvir o som das rãs. Nunca mais pensámos nos grandes mistérios que nos assombravam aos quais descobrimos juntas as soluções. Nunca mais partilhámos aquelas músicas que ninguém compreendia porque é que as ouvíamos. Nunca mais nos divertimos tanto como naquelas maravilhosas festas de anos que bastava a companhia. Nunca mais fizemos aqueles lanches em que me davas sempre mais outra fatia de bolo de chocolate, mesmo quando eu dizia que já estava cheia. Nunca mais fomos ao armário dos jogos de tabuleiro para tu me explicares pela milionésima vez como é que se jogava xadrez . Nunca mais nada disto aconteceu.
Mas. Não é tarde de mais para dizer, que eu de ti nunca mais me vou esquecer.

Para a Rita, por ter sido muito mais que uma amiga.