Acabar um livro ou não: eis a questão
Para mim, ler foi sempre uma fonte inesgotável de entretenimento. Nunca me foi negado acesso à literatura, tive o meu primeiro cartão da biblioteca aos onze anos e com certeza que a minha vida seria muito menos risonha sem o prazer que encontro, desde pequena, na leitura. É verdade que tive de ler "por obrigação" em contexto académico, mas, ainda assim, nunca deixei de gostar de ler.
A primeira vez que me lembro de não ter conseguido terminar um livro foi quando tinha os meus doze/treze anos. Não conseguia entrar naquele mundo, nem conectar-me com as personagens. Deixei o livro de lado e segui com a minha vida. Simples, certo?
A verdade é que, para mim, a questão: devemos acabar de ler todos os livros que começamos? é um dilema daqueles mesmo complexos. À primeira vista pode parecer absurdo forçarmo-nos a ler algo de que não estamos a gostar. No entanto, comecei a notar que, nas raras vezes em que me surge a vontade de desistir de um livro, começo sempre por me culpabilizar. Serei demasiado inculta por não entender este autor que todos adoram? Já li outro deste escritor que adorei, por que é que não gosto deste? Já estou a meio, o que me custa agora acabar?
Tentei entender as causas por detrás do meu desentusiasmo com o livro Blind Willow, Sleeping Woman do Murakami. É uma colectânea de contos pela qual me fui desinteressando gradualmente. Dos primeiros ainda gostei, mas à medida que ia avançando ia perdendo cada vez mais a vontade de ler. Após alguma reflexão apercebi-me de que era simplesmente estúpido estar a tentar ler só porque tinha gostado da metáfora x na história y ou de outro livro que tinha lido do autor.
Se também levam a desistência de livros demasiado a sério (como eu) pensem apenas no seguinte : a vida é demasiado curta para lermos livros de que não gostamos. Não interessa se é um clássico ou um romance de cordel, se não está a ser uma experiência agradável é perfeitamente válido não terminar o livro. Por agora os meus tempos de masoquismo literário terminaram, talvez daqui uns tempos faça as pazes com o Murakami.