O que é o fundamentalismo, afinal?
Este post está, há meses, guardado nos rascunhos tal é o receio que tinha em publicá-lo, mas isto é o meu blog, portanto cá vai disto. Se há coisa que não compreendo é a associação entre veganismo e "ser fundamentalista". Se calhar sou eu que estou demasiado atenta, mas vejo e oiço isto em todo o lado. Do género: "Fulana está a tentar deixar de comer carne, mas CALMA LÁ PESSOAL que ela é um ser humano normal e ainda come ovos e manteiga, porque também não é nenhuma fundamentalista!"
O que é que querem dizer com isso? Que os vegetarianos são todos uns nazis, porque escolhem um estilo de vida que implica não comer animais? Isso é algo assim tão inconcebível e repugnante?
De acordo com o amigo dicionário, fundamentalismo pode ser:
1. [Religião] Doutrina que defende a fidelidade absoluta à interpretação literal dos textos religiosos.
2. Atitude de intransigência ou rigidez na obediência a determinados princípios ou regras.
É o segundo siginificado que, aparentemente, faz mais comichão à maioria das pessoas. Se aceitarmos os vegetarianos enquanto fundamentalistas por "serem rígidos na obediência a determinados princípios e regras" não poderemos aplicar o mesmo àqueles que seguem uma dieta omnívora? Não contestar a alimentação que recebemos, desde infância, as informações que ouvimos como "o leite faz bem" e tapar ouvidos a todos aqueles que nos tentam mostrar um outro lado não é ser intransigente?
Não estou a escolher lados, ser pró ou anti-vegetariano não é a questão. O problema incide em propagar ódio. Reparem, obedecer a determinados princípios, ou regras morais às quais não ousamos ceder, parece fazer perfeitamente sentido em várias áreas da nossa vida. Respeitar a religião, a raça, a nacionalidade, o direito à liberdade de expressão de outros indivíduos figura-se plausível na maior parte das democracias, certo? Então, por que é que é só na alimentação é que tal não se aplica?
Por que é que incomoda tanto alguém ter os seus princípios bem definidos e esses princípios passarem por não matar, ou não deixar a morte de animais para consumo humano nas mãos de outrém? Por que é que ter um sistema moral que identifica o apoio a uma indústria que mata e explora animais outrora saudáveis e livres como algo errado, "faz impressão"?
O meu objectivo não foi ofender alguém, isto é apenas um mero desabafo. Ah e já agora sim, frango é carne e admirem-se: há vegetarianos que nem se quer comem alface! (gritos de horror)