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Sweet Stuff

livros, música e desabafos vários.

Qui | 30.04.20

UM ARTISTA MARAVILHOSO 💕

No seu vídeo de homenagem a Irrfan Khan, o Guardian não mencionou aquele que considero ser um dos melhores papéis do actor. Puzzle é um filme delicado em que Khan nos oferece uma interpretação tão sensível, cativante  e, ainda assim, assente no real e mundano. Uma combinação de charme e vulnerabilidade tão bonita. Um artista maravilhoso, que deixa saudades. 

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Qua | 29.04.20

10 LIVROS PARA VIAJAR SEM SAIR DO LUGAR 📖

No outro dia deparei-me com um artigo da WOOK que recomendava livros que nos transportam para outros destinos. Não pude deixar de reparar que dos 18 títulos recomendados, apenas um era escrito por uma mulher. Como  já queria vir aqui falar sobre livros há algum tempo, juntei o útil ao agradável e assim surgiu este post. 

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Afeganistão: A Pérola que partiu a concha, Nadia Hashimi

Hashimi vem-nos provar que não é só  Khaled Hosseini que escreve sobre Cabul. Este é um romance histórico sobre a realidade afegã e conta a história de duas mulheres que desejam estar livres das opressões impostas ao sexo feminino.

Austrália: A Modista, Rosalie Ham

Já vi o filme e confesso que o achei bem mais brutal e violento do que o título faz parecer. É a história de uma modista que volta à vila australiana onde cresceu e vê-se confrontada com os mesmos habitantes - e mesmos preconceitos - de outrora. 

China: Once Upon a Time in the East, Xiaolu Guo

Ainda não li nada desta autora, mas estou super curiosa com este livro. É um retrato da sua infância na China, descrito pelos críticos como o Cisnes Selvagens desta geração. 

Coreia: One Hundred ShadowsHwang Jungeun 

Infelizmente não está disponível na nossa língua, mas podem encontrar este romance coreano traduzido para Inglês.

França: A Elegância do Ouriço, Muriel Barbery

Já devem saber que eu aproveito qualquer oportunidade para falar deste livro, mas a verdade é que me marcou mesmo muito. Não é para toda a gente, mas se gostam de reflexões filosóficas, personagens snob q.b. e referências literárias, são capazes de gostar.

Gana: Rumo a Casa, Yaa Gyasi

Outro que está na minha TBR há já algum tempo. É a história de duas irmãs que crescem na mesma aldeia no Gana, mas acabam por viver realidades completamente distintas. É um romance geracional ao estilo Cem Anos de Solidão e as críticas são muito boas. 

Irlanda: O Prodígio, Emma Donoghue

Um livro perfeito para quem gosta de histórias com uma atmosfera sombria e de mistério. É a história de uma aldeia irlandesa no século XIX e de uma criança que, alegadamente, sobrevive há meses sem se alimentar.  

Japão: The Forest of Wool and Steel, Natsu Miyashita

Outro título que também não está traduzido cá. Este é um livro que explora o tema do "encontrar o nosso propósito" e como isso é relevante (e assustador) quando somos jovens e nos sentimos perdidos.

Rússia: Snow in May, Kseniya Melnik 

Este não é um romance, mas sim um conjunto de contos, todos eles passados numa aldeia russa remota, descrevendo a vida e as peculiaridades dos seus habitantes. 

Turquia: Last Train to Istanbul, Ayse Kulin

Não percebo muito bem como é que este livro não está traduzido para Português, visto que é tão conhecido. É sobre um casal apaixonado durante a 2ª Guerra e passa-se não só em Istambul, mas também em Paris, Berlim e por essa Europa fora.  

Bónus: Mulheres Viajantes, Sónia Serrano

Foi a Sara que me relembrou da existência deste livro. Como o título indica é um livro de não-ficção que fala sobre várias mulheres viajantes, ao longo da História.  Já li as primeiras páginas online e gostei muito, vou ter mesmo de o comprar. 

Sab | 25.04.20

25 DE ABRIL SEMPRE ❤️

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Não! Só quero a liberdade!

Amor, glória, dinheiro são prisões.

Bonitas salas? Bons estofos? Tapetes moles?

Ah, mas deixem-me sair para ir ter comigo.

Quero respirar o ar sozinho,

Não tenho pulsações em conjunto,

Não sinto em sociedade por quotas,

Não sou senão eu, não nasci senão quem sou, estou cheio de mim.

 

Onde quero dormir? No quintal...

Nada de paredes — ser o grande entendimento —

Eu e o universo,

E que sossego, que paz não ver antes de dormir o espectro do guarda-fatos

Mas o grande esplendor, negro e fresco de todos os astros juntos,

O grande abismo infinito para cima

A pôr brisas e bondades do alto na caveira tapada de carne que é a minha cara,

Onde só os olhos — outro céu — revelam o grande ser subjectivo.

 

Não quero! Dêem-me a liberdade!

Quero ser igual a mim mesmo.

Não me capem com ideais!

Não me vistam as camisas-de-forças das maneiras!

Não me façam elogiável ou inteligível!

Não me matem em vida!

 

Quero saber atirar com essa bola alta à lua

E ouvi-la cair no quintal do lado!

Quero ir deitar-me na relva, pensando "Amanhã vou buscá-la"...

Amanhã vou buscá-la ao quintal ao lado...

Amanhã vou buscá-la ao quintal ao lado...

" Amanhã vou buscá-la ao quintal"

Buscá-la ao quintal

Ao quintal

ao lado...


~ Álvaro de Campos in Livro de Versos (1930)

Sex | 17.04.20

UM POEMA POR DIA #3 📖

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Claude Monte, Femme lisant, 1872

 

In a Library

A precious, mouldering pleasure 't is
To meet an antique book,
In just the dress his century wore;
A privilege, I think,

 

His venerable hand to take,
And warming in our own,
A passage back, or two, to make
To times when he was young.

 

His quaint opinions to inspect,
His knowledge to unfold
On what concerns our mutual mind,
The literature of old;

 

What interested scholars most,
What competitions ran
When Plato was a certainty.
And Sophocles a man;

 

When Sappho was a living girl,
And Beatrice wore
The gown that Dante deified.
Facts, centuries before,

 

He traverses familiar,
As one should come to town
And tell you all your dreams were true;
He lived where dreams were sown.

 

His presence is enchantment,
You beg him not to go;
Old volumes shake their vellum heads
And tantalize, just so.

~ Emily Dickinson 

Qui | 16.04.20

UM POEMA POR DIA #2 🌸

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Van Gogh, Amandier en fleurs, 1890

 

Quando vier a Primavera,

Se eu já estiver morto,

As flores florirão da mesma maneira

E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.

A realidade não precisa de mim.

 

Sinto uma alegria enorme

Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.

 

Se soubesse que amanhã morria

E a Primavera era depois de amanhã,

Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.

Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?

Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;

E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.

Por isso, se morrer agora, morro contente,

Porque tudo é real e tudo está certo.

 

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.

Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.

Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.

O que for, quando for, é que será o que é.

 

~Alberto Caeiro, “Poemas Inconjuntos.” (1915)

 

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