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Sweet Stuff

livros, música e desabafos vários.

Ter | 28.07.20

APOLLO'S ANGELS DE JENNIFER HOMANS

Estará o ballet a morrer?

NPG x139574; Anna Pavlova in 'The Dying Swan' - Portrait ...

Anna Pavlova em 'The Dying Swan' (National Portrait Gallery)

 

Passei grande parte do mês de Junho e a segunda metade de Julho a ouvir Os Anjos de Apolo. Um livro em que Jennifer Homans, ex-bailarina (e clara apaixonada por os mistérios desta arte) se compromete a narrar a história do ballet.

Gostei imenso deste livro. Ainda que visto de uma lente americana, e com um claro foco em Balanchine (e quase nada sobre Vaganova), este livro não deixa de ser uma obra-prima que interliga a história da civilização humana com a história do ballet. Desde a corte italiana do século XVI, até à New York scene dos anos 60 do século XX.

De facto, Homans dá respostas às muitas perguntas que, um entusiasta por esta arte (como eu!), se pode questionar: por que é que os dinamarqueses seguem o estilo de ballet francês? Por que é que não houve uma escola de ballet italiana até meados do século XX, se o ballet nasceu em Itália? Por que é existem aquelas sequências de "danças espanholas" e outras variações aparentemente desconexas em bailados famosos como O Quebra-Nozes e A Bela Adormecida

Se nunca fizeram estas, ou outras perguntas semelhantes, talvez não apreciem o nível de detalhe deste livro, mas eu adorei. Aliás, gostava que Homans tivesse se debruçado ainda mais sobre a técnica e as diferenças que existem entre as várias escolas de ballet. Ainda assim, compreendo que esta não fosse necessariamente a função do livro. A História que Homans conta é sim cultural e social.

Foi por ter adorado o livro, que não compreendi o tom melancólico do epílogo, em que a autora declara o ballet como morto e profetiza o seu desaparecimento. Como assim? Então acabo de ler que o ballet resistiu ao declínio da Itália Renascentista, aos avanços de Napoleão, à queda dos Impérios europeus, à Primeira Guerra Mundial, aos regimes totalitários do século XX e à Guerra Fria  mas agora, está morto?

Só consigo ver esta opinião tão derrotista (e elititsa q.b.) como um reflexo da altura de crise económica em que a obra foi publicada (2011). Eu cá escolho ser optimista. Acredito genuinamente que as primeiras décadas do século XXI mostram uma nova página de inovação na História do ballet. 

Afinal de contas, que razão há para não acreditar nessa revolução? Se há coisa que Apollo's Angels mostra é que o ballet se dividiu, fragmentou, adormeceu e voltou a acordar, ao longo dos séculos. Na sua linguagem mágica e única, de tragédia, etiqueta, decoro, arrependimento, vingança, cedência e inspiração, o ballet mostra-nos o esplendor que é estar vivo. Aqui e Agora. 

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