Depois do desabafo deste post tenho-me sentido muito melhor (e, já agora, o meu obrigada a todos os que continuam a enviar-me mensagens de apoio. Vocês são uns queridos ❤️). Apercebi-me que uma boa dose de self-care é algo de que estava a mesmo a precisar e, por isso, tenho tentado implementar pequenas mudanças no meu dia-a-dia que ajudem a melhorar a minha saúde mental. Voltei às tranças e aos lacinhos (para variar de ter o cabelo sempre apanhado num trambolho) e tenho feito um esforço para dedicar um bocadinho de tempo todos os dias só para cuidar de mim.
Também tenho pensado muito na compra de livros. Agora que descobri imensas livrarias independentes e outras alternativas a monopólios editoriais, a minha TBR não pára de crescer. Parte de mim quer ter mais auto-controlo e não comprar desenfreadamente, outra parte diz-me que não sei o que o amanhã trará para esta indústria. Por enquanto tento manter-me no método 5+1, mas quem sabe se isso não mudará em breve. Afinal de contas, vivemos uma realidade assustadora e um pouco de s(h)elf-care nunca fez mal a ninguém.
Querem apoiar livrarias independentes a partir do conforto do lar? Hoje trago três recomendações de lojas online onde podem adquirir os vossos livros.
Leituria
A Leituria é uma livraria especializada em usados que criou a sua loja online em 2020. Têm portes grátis para todas as encomendas em território nacional e também vendem livros noutras línguas para além do Português. Já estive a percorrer a secção de livros em Inglês deles e fiquei com alguns debaixo d'olho :)
Distopia
Quando trabalhava em Lisboa, passava todos os dias pela Rua de São Bento onde fica esta linda livraria. Tenho muitas saudades de a visitar, mas, felizmente, a Distopia tem loja online! Para além de livros, vendem discos e vinis. Também têm uma excelente oferta de livros em Inglês. Os portes de envio estão incluídos em correio normal.
Gatafunho
Descobri a Gatafunho durante este segundo confinamento, através do site da RELI, e fiquei absolutamente encantada! Esta livraria (e editora) é especializada em livros infantis, mas também vendem literatura para adultos. Têm livros noutras línguas (muita coisa em Espanhol) e os portes são gratuitos para compras a partir dos 25€.
Qual Penélope à espera do seu Ulisses, também eu esperei anos para ver este livro chegar-me às mãos. A Odisseia, sim, mas tinha de ser na edição em capa dura da Cotovia. Esta foi a edição que li na faculdade (emprestada) e queria muito ter cá em casa para reler sempre que quisesse e, claro, tinha de combinar com os meus outros livros de capa dura da Cotovia.
O livro estava esgotado há já alguns anos (desde 2017, acho) e eu não me contentava em adquirir a edição da Quetzal. Pois bem, após todo este tempo vasculhando alfarrabistas, consegui! Ironicamente, em primeiríssima mão na Poesia Incompleta.
Agora cá está, linda e maravilhosa, a fazer companhia às Heróides, às Metamorfosese à Ilíada. A morte da Cotovia entristece-me, mas o meu coração fica um bocadinho mais feliz por ver esta minha odisseia chegar ao fim.
1. Normalmente, os livros de receitas causam-me comichão: receitas ora muito complexas, ora demasiado blah, ingredientes super estranhos de que nunca ouvimos falar, tempo de preparação de 300 horas, etc. Os livros da Gabriela Oliveira são literalmente os únicos livros de receita que utilizo. Como resistir a este novo volume dedicado apenas a doces e sobremesas?
2. O Serviço de Entregas da Kiki é um dos meus filmes de animação preferidos. Acho super fofinho e tem uma mensagem muito bonita. Curiosamente, nunca pensei que fosse baseado num livro, mas assim que descobri esta nova edição perdi-me de amores com as ilustrações de Joe Todd Stanton.
3. Mais uma Alice que adorava ter na minha colecção. Descobri esta edição através do site da livraria GATAfunho e fiquei absolutamente encantada com as ilustrações de Fernando Vicente.
4. A minha nova forma de ocupar o tempo? Brincar com papel! Ultimamente, tenho feito origamis e alguns outros projectos DIY em papel. A revista Flow (que, infelizmente, não tem edição portuguesa), lança todos os anos este livro para amantes do papel com montes de folhas bonitas e projectos. É carote, mas tãaaao apetecível.
E vocês, que livros sonham adicionar às estantes? :)
Trezentos dias depois...quebrei. Tranquei-me na casa de banho, olhei para o espelho e desatei a chorar. Chorei de frustração, de raiva, de medo e, sim, de pura tristeza. Sei bem que não sou a única que está farta do bicho, mas ainda não tinha ficado abalada desta maneira.
Quando consegui parar de chorar, fiquei a pensar em como toda a preocupação que sinto prende-se com os únicos dois modos nos quais opero. A culpa consome-me, porque ora sinto que sou um fardo para os outros, ora sinto que sou o burro que carrega esse fardo.
No primeiro cenário, sou eternamente responsável pelas minhas aflições. Afasto-me dos meus entes queridos, receio pedir ajuda a amigos e guardo tudo cá dentro. No segundo cenário, posso até ousar desabafar, mas logo me vejo a reprimir os meus próprios anseios e emoções para conseguir carregar as aflições alheias.
Tenho cumprido o meu papel de burro de carga desde que me lembro. Ser uma amiga disponível, ser o pilar da família, ser uma boa pessoa que contribui para a comunidade. Parece sempre pouco. Dou por mim a chorar pelos meus, pelos outros, por tudo aquilo que nunca vou conseguir dar ao mundo.
É aí que os pequenos monstrinhos da minha mente me tentam convencer de que não sou afinal o burro, mas sim um fardo e muito muito pesado. Sou fraca por chorar, as minhas lágrimas magoam os outros, os meus erros são imperdoáveis, por isso devo continuar a carregar, é esse o meu dever.
Nesse dia, enquanto olhava para o espelho sem conseguir reconhecer o rosto que me olhava de volta, percebi que o burro tem de ser despedido. Não sei como será o dia de amanhã, nem a próxima semana, mês, ou o resto do ano, mas sei que não consigo mais viver assim. Ombros curvados pelo peso. Não sei o que o futuro me reserva, mas espero que ele me traga leveza.