Aos poucos, devagarinho, volto a sentir-me eu própria. Volto a relembrar-me das coisas que me trazem alegria. Fazer um bolo, apanhar sol, ler um livro, dançar. Sei que isto não é um estado permanente. Volta e meia a minha cabeça vai entrar em rodopio de novo. Vou desaprender tudo e desesperar. Mas, por agora, nem que seja só por um segundo, nem que seja apenas um rush temporário de adrenalina, sinto-me feliz.
No autocarro, uma menina está a ler o Perks. Há dez anos, estava eu num autocarro a ler esse mesmo livro. Recentemente, entre arrumações, descobri um caderno em que tinha rabiscado o refrão de uma música. Uma música que há dez anos significava tanto para mim. Há dez anos via o senhor que colhia flores no descampado, todas as manhãs. Encostava a cabeça à janela, como faço agora. O sol continua a levantar-se, como há dez anos. Espreita sempre pelas nuvens quando penso que a chuva nunca mais vai parar.
Olá, bom ano! A tradição mantém-se e hoje venho revelar quais foram os meus livros favoritos de 2023. No geral, estou muito satisfeita com as minhas leituras do ano passado. Embora não tenha lido os livros mais antigos da minha estante, fiz algumas releituras, tive surpresas agradáveis e encontrei vários favoritos (de tal forma que reduzir esta lista a dez títulos foi difícil). Sem ordem de preferência, eis os livros que mais gostei de ler em 2023.
Começo com um livro que já apareceu no meu balanço semestral de 2023. Este é daqueles relatos autobiográficos inesquecíveis, pela sua crueza e sinceridade. Único até agora que li de Annie Ernaux, mas fiquei com muita vontade de ler todos os outros dela (quais recomendam?).
A história destes dois irmãos ficou comigo durante muito tempo. Em Julho, descrevi-o assim: "Foi o primeiro livro de ficção que li da autora e, apesar de ser uma obra muito aclamada, fui sem grandes expectativas (e sem saber nada sobre a história). É um daqueles livros que parece não ser sobre grande coisa, mas tem personagens inesquecíveis e uma atmosfera única."
Este livro foi dos que mais gostei de ler na primeira metade do ano. É um ensaio que a autora escreve a partir da sua experiência de passar uma noite dentro de um museu. Este é apenas o pretexto para uma viagem pela sua infância em Marrocos, os autores que mais gosta de ler e os sacrifícios que são precisos para terminar de escrever um romance.
Um livro que foi uma agradável surpresa. É, como o título indica, uma biografia de Mary Shelley. Embora não tenha adorado Frankenstein, gosto muito do filme com a Elle Fanning sobre a autora e gostei imenso desta biografia. Acho equilibrada na maneira como fala sobre o casamento de Mary e também explora o legado que ela deixou no campo da bioética.
Esta adaptação do diário de Anne Frank não só está maravilhosamente ilustrada, como consegue preservar um relato tão trágico de uma forma verdadeiramente especial. É um daqueles livros para miúdos e graúdos, que fica bem em qualquer estante.
Como não gostar de livros sobre livros? Demorei um bocadinho a entrar neste calhamaço, mas assim que a coisa começou a rolar, não consegui parar de ler. Vallejo propõe-se a narrar a história do nascimento dos livros desde a Antiguidade Clássica, intercalando com histórias pessoais da sua relação com este objecto tão fascinante.
Gostei imenso deste primeiro livro da trilogia autobiográfica da Deborah Levy. Numa resposta ao Why I Write de Orwell, Levy fala sobre a sua descoberta enquanto escritora, explorando temas de identidade e partilhando o que foi a sua infância na África do Sul. Quero prosseguir com os outros dois (até porque dizem que são ainda melhores que este).
Livro super badalado (alguém ainda diz isso?) nas redes sociais. Fui sem expectativas e acabei surpreendida. A melhor palavra para descrever a escrita de Taylor Jenkins Reid é cinematográfica. Dei por mim a visualizar as cenas como se fosse um filme. Li todo num só dia e não recomendo, se não quiserem acabar aos soluços e a questionar a vossa existência. Não me lembro da última vez que chorei tanto a ler um livro.
Se lerem só um livro desta lista, que seja este. Os ensaios de Djaimilia deixaram-me completamente rendida. Que linguagem tão expressiva, que metáforas tão bonitas e que temas tão importantes, claro. Foi o único que li dela até agora, mas quero lançar-me na sua ficção. Alguma coisa em particular que recomendem? :)
Já a terminar o ano, li o segundo volume da Anne, que não desiludiu. As descrições da natureza e as peripécias em que a nossa protagonista se mete continuam deliciosas. Dei por mim a rir às gargalhadas com algumas passagens e a arrepiar-me com outras. Estes livros são mesmo um aconchego para a alma e um quentinho no coração.