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Sweet Stuff

livros, música e desabafos vários.

Seg | 27.10.25

SER PESSOA CANSA

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@the.loving.guide

Embora seja um filme que nunca cheguei a ver até ao fim (e cuja representação de um relacionamento tóxico enquanto amor verdadeiro me dá náuseas), há um momento do The Notebook que é para mim inolvidável. É aquela cena em que o Noah pergunta à Allie o que ela quer. Would you stop thinking about what everyone wants? What do you want? Enquanto people pleaser é fácil reconhecer-me na frustração da Allie e naquela dor profunda de me aperceber o quão mais fácil é colocar as necessidades e desejos dos que me rodeiam em primeiro lugar. Assim, não tenho de pensar naquilo que eu quero, não tenho de me confrontar com o medo e a dificuldade de responder a essa pergunta.

Isto para dizer que ando um pouco perdida e só essa constatação em voz alta assusta-me. Não sei o que se segue, não conheço o fim da história (ninguém conhece, para isso é que cá estamos) e isso inquieta-me de tal forma que o meu instinto (natural ou aprendido) é entreter-me com a vida dos outros. É ser prestável e generosa e dar dar dar o tempo todo. Claro que também há uma fruição genuína em saber que alguém conta comigo, em reconhecer que sou importante na vida das pessoas que me são queridas. Porém, o problema de dar 100% no que quer que seja, é que depois ficamos com zero, não sobra nada. Segue-se a auto-comiseração. Por que é que a mim não me acontecem estas coisas? Como é que eu não alcancei isto? Amiga (digo eu a mim própria), se calhar porque estás mais preocupada em ser o apoio emocional de toda a gente e esqueceste-te pelo caminho do que é ser pessoa, do que significa cuidar de ti. Se calhar nem queres estas coisas que são importantes para os outros. Se calhar há outras coisas que para ti são importantes e está tudo bem nisso. Está tudo bem em gostares do que gostas, em seres como és, em estares no momento da vida em que estás. Se calhar é altura de reconheceres que também precisas dos outros, que não és esse robô indestrutível sem emoções, que, sim, vais-te sentir bem e depois mal e depois bem outra vez, por vezes no espaço de uma hora. Que perder um animal de estimação é difícil e uma amizade também. E perder ambos no mesmo mês é insuportável. Que o mundo é um lugar assustador e horroroso, mas que muitas vezes usas isso como desculpa para não agir, para desaparecer só. E também está tudo bem em desaparecer só, desaparecer por um bocadinho que seja. Logo, logo, vens à tona, lembras-te que sabes nadar (mal, mas sabes) e voltas a escrever no blog, a pegar num livro, a pôr música alto e a cantar.

Ser humano é cansativo. Canso-me muitas vezes de mim própria, mas hoje lembrei-me que não estou sozinha, que ainda posso sonhar, que posso dar um abraço àquela criança que tanto gostava de gelado de caramelo e de usar o boné virado para trás. Ela ainda está aqui dentro algures, a sorrir para mim.