Porta de entrada.
Prende-nos.
A cumplicidade prende-nos, torna-nos tão fracos e debilmente submetidos ao (des) encanto do outro.
Quando era pequena e perguntava à minha mãe o que era ser cúmplice, ela voltava os seus olhos lânguidos para o livro que tinha no sofá e murmurava "é quem ajuda no crime".
E sabes, ela sempre esteve certa. Ela esteve sempre certa. Certamente tu também saberias desde o início. Só eu permaneci na ignorância por um período cronológico tão longo, que se tornou impossível de definir.
Prende-nos.
E estive presa durante uma narrativa, um policial, durante os parágrafos longos, as pausas inquietantes e o que quer que o rumo do leitor decidisse fazer de mim, personagem.
Prende-nos.
E quando já era insuportável toda aquela miscelânea de imprudências sentimentais e o crime-crime-crime ressoava na minha cabeça, na voz arrastada que me habituei a ouvir, aí parei. E foi então que me apercebi.
Fechaste-me a porta de entrada.
Não, tu fingias nem sequer compreender. Tu lutavas contra os demónios na tua mente mas o teu espírito era mais claro do que nunca. E já nem valia a pena porque
Tu fechaste-me a porta de entrada.
E eu, como pássaro inquieto que nem pistola controla despedi-me sem acenar.
Voei pela janela.