BALÕES SEM HÉLIO
Na procura da metáfora perfeita que traduza este sentimento lembrei-me das festas de aniversário lá em casa. Aquelas em que havia comida e alegria em abundância. Em que não entrava a dor, a morte, ou as suas vizinhas. Entravam os nossos vizinhos, isso sim. Lembrávamo-nos sempre de os convidar. Mera simpatia? Não sei, mas creio que se divertiam connosco.
Quando a festa acabava, quando a mãe começava a recolher os pratos com migalhas de pão de ló, as taças com resquícios de mousse de chocolate e os copos ainda meio cheios de sumo de laranja, o tecto voltava a ser branco, ou a cor que os tectos costumam ter.
Os balões perdiam o hélio e desciam, gradualmente até se encontrarem com as nossas mãos. Era a imagem da melancolia e magia de mãos dadas.
Hoje sinto-me assim, como um desses balões sem hélio.
Dei tanto de mim, ou de que julgava ser eu que fiquei sem ar. Literal e figurativa-mente. Esvaziei-me na esperança de encontrar uma mão que me viesse agarrar no final da festa.
As festas continuam a começar e a terminar, mas agora parece que só há dor e morte e as suas vizinhas. Sou eu quem limpa as migalhas do pão de ló, quem enche os copos de sumo e quem faz a mousse de chocolate. Os nossos vizinhos? Não os vejo há imenso tempo.