CALENDÁRIO D'ADVENTO #17 | DESAFIO D'ABELHA 🐝
A Ana desafiou-me a escrever um texto inspirada nesta colagem. Eis a minha resposta :)
Uma estrela cadente atravessou o céu. Clara piscou os olhos incrédula. É ele, é o Pai Natal! O meu desejo vai realizar-se! Descendo as escadas do velho castelo, Clara correu até à cozinha para contar a Bernardete o que vira. A simpática cozinheira era a sua principal confidente. Agora, ainda que atarefada, Bernardete tentava ouvir Clara, enquanto mexia vigorosamente uma vara de arames numa grande taça. Clara sabia que todos a achavam uma criança solitária, mas não percebia por que é que isso era algo do qual se devia envergonhar. Afinal, ela era uma menina de todas as estações: sempre se conseguira divertir sozinha. Adorava as borboletas da Primavera, as pétalas de orquídea do Verão, e os biscoitos de manteiga que Bernardete preparava nas tardes chuvosas de Outono, e que Clara comia acompanhada do seu querido gato: o Senhor Listrado. Só o Inverno lhe parecia uma estação triste: demasiado azul, demasiado fria, demasiado silenciosa. Lembrava-lhe de memórias escuras que guardava fechadas no seu coração, protegendo-as como quem protege uma pedra valiosa. No dia anterior, tinha escrito a sua carta ao Pai Natal, pedindo-lhe uma estrela cadente. Já era Dezembro e Clara sabia que o Pai Natal estava demasiado atarefado para concretizar desejos, mas as estrelas ouviam. As estrelas ouvem sempre.
*
Clara acordou com os primeiros raios da manhã a bater na janela do seu quarto, o mais alto de todos, localizado na torre do castelo. É Natal, é Natal! Ainda de pijama, desceu a pesada escadaria a correr e foi até à sala. Um cheiro maravilhoso a manteiga, canela e anis pairava no ar. Bom dia, Bernardete! cumprimentou Clara, enquanto deixava cair um biscoito no chão. Aproximando-se do pinheiro de Natal, Clara reparou que o copo de leite e as bolachas que deixara na véspera ainda lá estavam. Então era verdade. O Pai Natal não viera, o seu desejo não se iria realizar. Sentando-se no chão, junto aos embrulhos, reparou num cartão postal escrito numa caligrafia que reconhecia. Querida filha, parto amanhã no primeiro comboio. Devo chegar a tempo de passar o almoço de Natal contigo. Com amor, o teu querido pai. As lágrimas acumularam-se nos olhos da menina. A magia da estrela era real. Ela pedira que o seu pai voltasse e ele estava já a caminho. Segurando o postal com força, Clara pensou em como tinha sido injusta. Afinal, o Inverno era a melhor estação de todas.