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Sweet Stuff

livros, música e desabafos vários.

Ter | 09.02.21

SEREI O FARDO, OU O BURRO QUE O CARREGA?

Imagem de Vera Montana

 

Trezentos dias depois...quebrei. Tranquei-me na casa de banho, olhei para o espelho e desatei a chorar. Chorei de frustração, de raiva, de medo e, sim, de pura tristeza. Sei bem que não sou a única que está farta do bicho, mas ainda não tinha ficado abalada desta maneira.

Quando consegui parar de chorar, fiquei a pensar em como toda a preocupação que sinto prende-se com os únicos dois modos nos quais opero. A culpa consome-me, porque ora sinto que sou um fardo para os outros, ora sinto que sou o burro que carrega esse fardo. 

No primeiro cenário, sou eternamente responsável pelas minhas aflições. Afasto-me dos meus entes queridos, receio pedir ajuda a amigos e guardo tudo cá dentro. No segundo cenário, posso até ousar desabafar, mas logo me vejo a reprimir os meus próprios anseios e emoções para conseguir carregar as aflições alheias. 

Tenho cumprido o meu papel de burro de carga desde que me lembro. Ser uma amiga disponível, ser o pilar da família, ser uma boa pessoa que contribui para a comunidade. Parece sempre pouco. Dou por mim a chorar pelos meus, pelos outros, por tudo aquilo que nunca vou conseguir dar ao mundo. 

É aí que os pequenos monstrinhos da minha mente me tentam convencer de que não sou afinal o burro, mas sim um fardo e muito muito pesado. Sou fraca por chorar, as minhas lágrimas magoam os outros, os meus erros são imperdoáveis, por isso devo continuar a carregar, é esse o meu dever. 

Nesse dia, enquanto olhava para o espelho sem conseguir reconhecer o rosto que me olhava de volta, percebi que o burro tem de ser despedido. Não sei como será o dia de amanhã, nem a próxima semana, mês, ou o resto do ano, mas sei que não consigo mais viver assim. Ombros curvados pelo peso. Não sei o que o futuro me reserva, mas espero que ele me traga leveza. 

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